Biografia

MUTES, (César de Barros Amorim)  nasce em França, Margny Les Compiegne em 1976, regressa a Portugal em 1986. Reside actualmente em Arcos de Valdevez. Frequentou a escola até ao 12º ano, onde depois decidiu dedicar-se ao rock n`roll. Pintor autodidata, iniciou a sua carreira nas artes em 2000. Fez algumas incursões pelo mundo da música e do teatro, foi baixista da Banda Primitive Noise, e DadaBeat, entre 1995 e 2005, trabalhou no coletivo de teatro experimental A Traça. Expõe com regularidade desde 2004 em Portugal e no Estrangeiro, em exposições individuais ou coletivas. Está representado em diversas coleções nacionais e estrangeiras nos 5 continentes. É amante do Cubismo, trabalha a corrente pictórica (DES) Cubismo Contornismo e as suas inúmeras figuras mutantes e imaginárias numa explosão de cores e danças de estranhos movimentos.

O que de imediato atrai na pintura de Mutes é o seu impacto Pop. O olhar é de pronto convocado pela explosão de cores lisas e primárias que emanam das suas telas, numa profusão de detalhes e estilhaços a fazer lembrar os grandes vitrais das catedrais góticas. Depois, o seu “(des)cubismo” ganha visibilidade, com a sobreposição das diversas partes do representado num mesmo plano e a visualização espacial da imagem nos seus diversos ângulos em simultâneo, na senda do encetado por Georges Braque e Pablo Picasso no início do século XX, a ser ponto de partida para o aprofundar da geometria das formas. Mas em Mutes esta decomposição dos objectos na sua representação geométrica é torpedeada pela intrusão de outros elementos gráficos, nomeadamente figuras humanas, bichos e instrumentos musicais, saídos do universo da banda-desenhada, num piscar de olho à linha clara da BD franco-belga, que contrastam, no seu desenho curvo e bidimensional, com a envolvente geometral e escultórica que dá corpo ao vitral multicolorido que vão paulatinamente invadindo. E tal como nos vidrais góticos e nas histórias aos quadradinhos, a pintura de Mutes apresenta-se como narrativa sequencial, afirma-se como denúncia ou comentário sobre o mundo, ora sarcástico, ora colérico, ora afectuoso, mas sempre pessoal. Um comentário que se lê visualmente, sem ordem precisa, e que acaba por ser, mais do que o arrebatamento estético pictórico, o objectivo último do acto de pintar e de criar. Como se na consciência de ser social residisse toda a força do artista enquanto criador, imprimindo à sua pintura a denúncia dos desacertos e das iniquidades do mundo, perversidades que deus e os homens não souberam ou não quiseram evitar. Como se a pintura não fosse mais do que instrumento para o despoletar de reacções e emoções, um catalisador de acção correctora, um manifesto poético sensorial.

Por: Adolfo Luxuria Canibal